Filho de pai americano e mãe suiça, este carioca de 64 anos é uma das lideranças em capital de risco que surge no país, levantando a bandeira do capital semente. Binder defende um novo modelo brasileiro de investimento em empresas nascentes inovadoras.
Sabemos que o capital semente está bem estruturado em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, mas só agora ouvimos falar sobre ele por aqui. Como funciona esse tipo de investimento?
Quando um empreendedor se lança num empreendimento, ele/ela tem que ter recursos para bancar a criação e os primeiros passos. O capital de terceiros que ajuda a bancar esta fase inicial é chamado de capital semente. Em um mundo globalizado, de concorrência acirrada, é muito difícil que um empreendedor possua o montante de recursos próprios necessários para financiar o deslanche de uma empresa, especialmente uma de base tecnológica, que é o foco do capital semente. Portanto, para provar a tecnologia, contratar uma equipe de várias especialidades e ir a mercado ele tem que ter acesso a alguma fonte de capital não oneroso.
Do lado do investidor, o capital semente é praticado por pessoas, ou instituições que buscam altos retornos e estão dispostos a correr altos riscos. Estes investidores procuram validar a tecnologia, ou inovação; estudam o mercado para certificar-se da demanda e potencial de crescimento do produto; e examinam a capacidade empreendedora da equipe que foi constituída para explorar aquela oportunidade. Investem em participações acionárias nas empresas que pretendam desenvolver e têm uma perspectiva de longo prazo. Não devem ser confundidos com banqueiros, que são totalmente avessos a este tipo de risco e tampouco especialistas em finanças, que se dedicam a ganhar dinheiro através das assimetrias, ou oportunidades que ocorrem no mercado financeiro. Investidores em capital semente se especializam em criar valor através de investimentos na economia real, correndo os riscos empresariais e participando diretamente dos ganhos, ou perdas dos negócios.
Qual o perfil da empresa à qual se destinam os investimentos de recursos desta modalidade de capital de risco?
Essencialmente, inovadora. A empresa tem que ter "capital intelectual", tem que ser concorrente, determinada, que explora um nicho de mercado importante. O corpo dirigente da empresa tem que demonstrar paixão, iniciativa e uma visão diferenciada.
Apesar de tudo isso, não se viu ainda o capital semente de forma expressiva no Brasil. Por que esse tipo de investimento ainda não emplacou por aqui?
Passamos boa parte dos últimos 40 anos imersos em inflação alta, o que dificulta qualquer investimento de longo prazo. Após um pouco mais de uma década de relativa estabilidade econômica ainda somos carentes de uma mentalidade de longo prazo, condição essencial para a prática do capital semente. Nosso paradigma empresarial também não favorece uma composição acionária de múltiplas disciplinas, o que também é importante. Naturalmente a taxa de juros elevada, a carga tributária excessiva, a burocracia e outros problemas nacionais também contribuem, mas estamos a caminho de criar um ambiente mais propício e favorável para os investimentos na economia real.
Os modelos estrangeiros de investimento de risco funcionam por aqui, ou o Brasil precisa criar formas locais de lidar com a realidade das empresas e tecnologias nacionais?
Em primeiro lugar, temos que conhecer e saber trabalhar com o ambiente da ciência e da pesquisa no Brasil, o lugar onde nascem as inovações. Em segundo lugar, temos que saber trabalhar com o empreendedor brasileiro, entendê-lo e ajudá-lo a vencer os obstáculos. Existe uma técnica muito refinada para escolher investimentos, mas ela é de pouca utilidade, principalmente na fase inicial das empresas, se o investidor não estiver disposto a por a mão na massa, arregaçar as mangas para, junto com o empreendedor, criar uma empresa vencedora. Em terceiro lugar, temos que construir uma ponte para que o produto possa transitar da empresa para o mercado. Nesta fase, como nas demais, existem metodologias, mas nenhuma substitui o contato íntimo entre o sócio empreendedor e o sócio investidor.
Como os empreendedores devem se preparar para receber o capital semente?
Essencialmente tem que saber vender a si próprio e a seu produto, ou processo. Todos sabem que tem que ter um bom plano de negócios, mas poucos entendem que o plano de negócios tem que refletir a alma do negócio, o que o faz singular e concorrente. O empreendedor também tem que pesquisar muito bem o seu interlocutor. Com quem estou falando? Esse é o cara certo? Por que ele, que não é meu familiar, se interessaria em investir dinheiro dele no meu negócio?
De que maneira o capital semente pode ajudar o Brasil a superar seus problemas sociais e de desenvolvimento econômico?
Quando se cria um bom produto, cria-se riqueza. Quanto mais valor agregado no produto, ou seja, diferença entre custo e preço de venda, mais riqueza. Quanto mais riqueza, mais impostos e mais empregos. A melhor maneira de uma comunidade progredir é de ter bons produtos. Gosto muito de citar o caso da Microsoft, que a cada nova versão do Windows cria um verdadeiro aspirador de dinheiro para a sua comunidade imediata e para seu país. O que a Microsoft vende por centenas de dólares custa, para a Microsoft, dezenas de centavos. O escritório central da Microsoft fica no remoto estado de Washington, na pequena cidade de Redmond. Pelé nasceu em Três Corações, Minas Gerais. Vender soja e laranja é um bom negócio para poucos. Vender tecnologia, produtos inovadores, é um ótimo negócio para muitos.
Qual sua visão para o futuro do capital semente brasileiro?
O país inteiro está falando em inovação, é a palavra do momento. Não se faz inovação sem dinheiro. Para desenvolver um produto inovador é necessário muita dedicação, muito tempo e dinheiro. Dinheiro não deve ser distribuído, mas sim investido. Investir dinheiro é uma atividade de profissionais que sabem quantificar risco e obter retorno. Este processo se inicia com capital semente, é a base do ciclo empresarial. Um negócio que começa bem sempre vai achar comprador. Hoje já existe no Brasil uma crescente indústria de capital de risco à procura de novos investimentos. Pouquíssimos, no entanto, se dedicam a investimentos em fase inicial. Vejo ótimas perspectivas para o capital semente porque há uma forte demanda para investimento em novas empresas, ainda pouco estabelecidas. Vejo também uma grande oportunidade para a redenção da ciência e da tecnologia nacionais. Quando a ponte entre a tecnologia e o mercado estiver concluída, tenho certeza de que os nossos cientistas, inventores e inovadores saberão atravessá-la.
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http://www.institutoinovacao.com.br/internas/noticia/idioma/1/104